sexta-feira, 16 de abril de 2010





Eu acho tão, tão, tão, mas tãããão legal ver que uma pessoa é otimista 100% do tempo. Mesmo, de coração. Admiro de verdade. Mas, por favor, não espere que eu seja também, porque isso está muito além das minhas limitações humanas.

Ok. Admito. Não estou num dos meus melhores dias, muito menos no dia mais otimista, e quando estou nesses dias, preciso ser extremamente estrategista.
Número 1: procuro estar em contato com o menor número de pessoas possível.
Número 2: se me perguntarem se estou bem, eu minto e digo que sim.
Número 3: se me conhecerem bem e souberem que estou mentindo, evito falar sobre o que me aflige.
Número 4: quando não consigo evitar de falar sobre o assunto, ou, se preciso desabafar, escolho aquele amigo com a porcentagem mais razoável de otimismo.

Eu já caí na besteira de conversar com “otimistas extremistas” em dias assim, e já cheguei a seguinte conclusão: eles não respeitam a falta de fé referente a nada. Não importa sobre o que seja a sua percepção pessimista, é inaceitável. Independente de ser um raciocínio coerente ou só um desabafo, é inadmissível ter uma opinião negativa, mesmo se esta for totalmente realista.

Sim, dias melhores virão. Pode ser só uma fase mesmo. De tudo é possível tirar alguma coisa positiva, mesmo que seja um aprendizado. Acreditar, ter esperança e fé é essencial. Não há mal que dure para sempre. Mas também não existe felicidade eterna.

E é por não existir felicidade eterna e plena que todo mundo tem o direito de esbravejar de vez em quando, de ficar chateado e descrente, de perder as esperanças de vista em algum momento da vida. E isso também não é compreensível, e merece respeito?

Eu ando colecionando frustrações, mas não são delas que me refiro. Conquistas e frustrações pessoais fazem parte do processo na vida de qualquer pessoa. Hoje eu estou exaurida, como se pudesse sentir o peso do mundo nas minhas costas, depois de um dia inteiro de notícias ruins, de conclusões drásticas e de ser testemunha de desgraças alheias. Caramba, o que está havendo com o mundo?

Ufa! Como pesa existir!!!

Em dias assim, frases prontas de otimismo não fazem efeito algum, por mais que eu tenha conhecimento da veracidade delas, me causam apenas uma reação: irritação. Por isso, as estratégias se fazem tão necessárias nessas horas.

É o melhor para todos, “cada um no seu quadrado”, sem interferir no pensamento positivo alheio, ou na falta dele. E eu sigo duvidando do otimismo e pessimismo enquanto estados permanentes de humor. Às vezes você está, às vezes, não está. Ser ou não ser pessimista ou otimista requer um equilíbrio que raríssimas pessoas são capazes de alcançar.

E não, eu não perdi as esperanças no melhor. E mesmo quando o mundo resolve cair de uma vez só na minha cabeça, eu não fico esperando pelo pior. Só me sinto no direito de, por alguns instantes, emburrar a cara para o otimismo. Mas não demora nada e a gente faz as pazes…

Um copo com água pela metade, para você, está meio cheio, ou meio vazio? Dependendo da sua resposta, você pode estar pessimista ou otimista. Pra mim, o copo hoje está pela metade – mais para vazio.

Mas estou com sede, e bebo tudo…

Voilà!

Gabriel Baroni diz:
*hahahaha
*e voce, pq que abandonou o blog? ¬
Jaque diz:
*estudando horrores, é tanta coisa pra escrever que quando tento por pra fora, nao sai
*deixei acumular demais
Gabriel Baroni diz:
*gostei muito da Sweet
*hahahaha
Jaque diz:
*meu pai é um genio!
Gabriel Baroni diz:
*demais.
Jaque diz:
*hahah eu sei
*hmm
*vou escrever lá
Gabriel Baroni diz:
*escreve sobre seu querido amigo Gabriel
*hahahhah

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Sweet

Café da manhã com pai, conversas, torradas e o por quê da Geléia de Morango.

- Ta pensando em quê?
- Na Geléia de Amora, pai.
- Hã?
- É que a Geléia de Amora não tem gosto de Amora.
- rs

(Levantei e fui pegar a de Morango, aliás, Geléia de Morango tem gosto de Morango. E depois de uns 2 minutinhos em silêncio...)

- Pai, agora posso perguntar uma coisa?
- Ué, claro que pode. rs
- Como a gente descobre que deixou de amar alguém?
- Da mesma forma que a gente descobre que Geléia de Amora não tem gosto de Amora.

terça-feira, 16 de março de 2010

Trash

Acho que a ditadura continua dentro das pessoas, mas na forma de medo e preguiça de defender o que acreditam. Essa ditadura nova é muito mais eficaz do que a antiga, pois a antiga inflamava a defesa de melhorias e ideais, já esta torna todos uns mansos estupidos e satisfeitos em assistir ao Big Brother todo dia a noite... uma merda.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Olha só aonde a violência foi parar!

Hoje me deparei com a violência urbana na sua forma mais assustadora.
Ela não está mais só nas ruas, ela invade nossas casas, nossos carros. Mas o estrago maior é quando ela invade nossos pensamentos.

Hoje voltando pra casa tudo parecia relativamente tranqüilo. Me cedendo uma carona, o Edu passava lentamente com o carro (vidros fechados) por uma "comunidade". Com a despreocupação de quem pega esse mesmo caminho freqüentemente não reparei que parte dele é uma rua muito comprida e de mão única, onde de um lado há um canteiro de concreto e do outro um longo muro, o que não permite qualquer tipo de manobra, você só pode ir pra frente. E ao mesmo tempo a rua é cheia de quebra-molas enormes, o que impede qualquer tipo de fuga mais veloz. Só reparei no quão indefeso se fica ao passar por tal trincheira, pois hoje quando já chegava quase a seu fim vivi frações de segundo que se tornaram horas.

Em um piscar de olhos me vejo encurralada. Do lado direito da rua havia três homens atrás de um caminhão. Eles estavam prestes a dar o bote. Mesmo distante deu pra ver o clima de tensão e a adrenalina saltando dos olhos deles, que alias era a única parte de seus rostos que estava a mostra, eles usavam as camisas amarradas na cabeça para tapar o rosto. Uma agonia se instalou em mim e um calafrio percorreu as minhas costas até chegar as minhas pernas, que ficaram paralisadas. Para piorar, quando olho para o outro lado da rua vejo mais um elemento semelhante atrás de um poste. Um milhão de coisas passam pela minha cabeça, tudo em um segundo. Desde o valor do seguro do Edu até o quanto amo minha mãe, tudo me vem à mente. Vejo que os três homens do caminhão vem em direção ao carro. O Edu freia bruscamente e abaixa a cabeça. Já estou gelada de medo quando ouço: "1,2,3 Felipe, 1,2,3 Diego, 1,2,3 Bianca"

quinta-feira, 11 de março de 2010

Cinema: Lazer ou Estresse?


Antes de começar este post, preciso fazer alguns avisos:

1 – Trata-se de um relato cotidiano que despertou a fúria dos meus piores monstros, por isso, para quem não me conhece e nunca me viu nervosa, não se assuste.
2 - Eu não sou sou ranzinza o tempo todo, não costumo ser mal-educada e não é sempre que eu perco o controle e deixo o meu lado, digamos, barraqueiro entrar em ação, logo, não chego a representar um perigo para a sociedade.
3 - Não se preocupem, me disseram que isso tem cura.
4 - Me desculpo de antemão pelos palavrões, que serão, sem dúvidas, inevitáveis.
5 – Pai e mãe: não se envergonhem, todos sabem que essa não foi a educação que vocês me deram!

Terça-feira à noite, eu estava entediada e recebi um convite do Tico (post anterior) para ir ao cinema assistir O Segredo Dos Seus Olhos. Compramos os ingressos, e antes da sessão, jantamos na praça de alimentação do shopping, fomos a algumas livrarias, mas saí das lojas de mãos abanando, porque todos os livros que eu quero comprar estão bem mais em conta na internet. Sim, eu pechincho!

Comentei com o Tico que deveríamos fazer sempre isso durante a semana, porque toda vez que vamos ao shopping no fim de semana, eu me irrito com a movimentação, com as filas, com a barulheira, e antes de conseguirmos fazer qualquer coisa, eu já estou implorando para ir embora. É, eu sei, tenho só 17 anos, porém não tenho espírito aventureiro para certas coisas.

Mas o shopping estava calmo e bem longe de estar cheio, e ingenuamente, pensei que o cinema não fosse ficar lotado. Até porque era quinta-feira e a sessão só acabaria perto da meia-noite. Quando deu o horário de começar o filme, para a minha infeliz surpresa, avistei vários pré-adolescentes e até uma criança na fila, que, por sinal, não era uma fila pequena, o que já começou a me fazer questionar a cabeça das pessoas. O que levaria aquelas pessoas a ficarem numa fila se os ingressos são comprados antecipadamente com lugares marcados? Acho que brasileiro está tão habituado a ficar em filas, que fica nelas até quando não é necessário. Aff!

Já dentro do cinema, acomodada no meu assento, com os pré-adolescentes sentados duas fileiras atrás, adultos do meu lado direito (ufa!), e a tal criança que vi na fila – adivinhem! – sentou-se do lado esquerdo, ao lado do Tico. É verdadeira a premissa que diz que quanto mais medo você tem de alguma coisa, mais você atrai o que teme. E eis que o cinema ficou cheio. Então, seja o que Deus quiser, pensei.

Vale ressaltar que o cinema em questão fica na Barra da Tijuca, que não é um shopping que atende a todas as classes sociais, fica num bairro que tem o seu prestígio no Rio de Janeiro, onde espera-se que as pessoas que o frequentam tenham um pouco mais de orientação e educação.

O filme começou e a sala que eu pensei já estar cheia, foi enchendo cada vez mais. Isso mesmo, depois que o filme já havia começado, os retardatários (que não eram poucos) começaram a ocupar os seus lugares, entrando em suas fileiras, atropelando os que já estavam sentados, e impedindo a visão de quem tentava assistir o filme. Tive a impressão de que o shopping inteiro estava dentro daquela sala de cinema, olha o tal “poder da atração” de novo aí…

Eu juro que até esse momento eu estava calma e me comportando feito uma mocinha, apesar de estar pensando que a falta de bom senso das pessoas não têm limites, tentei abstrair e me concentrar para não perder nada do filme, e talvez eu teria até conseguido, se não fosse pela mulher sentada ao meu lado.

Ela simplesmente estava tendo um acesso de tosse, daqueles que acontecem a cada três segundos, e eu comecei a fazer um exercício de meditação: “Calma Jaque, ela não tem culpa de estar tossindo, isso poderia acontecer com você!”. Depois de alguns longos minutos de filme, mandei a meditação para a casa do ¨%$@#*&%$*#” e meu cérebro voltou a ser dominado por um turbilhão de questionamentos: “Se essa criatura estava com acesso de tosse por que não ficou em casa? Por que não esperou melhorar para vir ao cinema? Como ela consegue não se se sentir mal por estar incomodando os outros?”

Ela tossia cada vez mais e os intervalos de tosses iam diminuindo, e a minha revolta aumentando. Tico, ao perceber a minha inquietação, me ofereceu trocar de lugar com ele. Então olhei para o lado dele e vi criança, recusei o convite e lembrei que quando pensamos que as coisas vão mal, esquecemos que elas podem piorar ainda mais.

Dito e feito. Pouco tempo depois senti que o ataque de tosse da pobre coitada desprovida de bom senso melhorou um pouco, e foi então que as coisas começaram a piorar. Ela intercalava as tosses com os comentários sobre o filme em voz alta com os amigos ao lado.

Botei a mocinha comportada - que até então habitava em mim – de castigo, e comecei a pedir silêncio. Não adiantou. Desviei os olhos do filme, e virei a cabeça de lado, inclinei meu corpo e fiquei descaradamente encarando a mulher. Absolutamente em vão. Enquanto isso, o garotinho não entendia o filme e perguntava tudo para o pai, que, por sua vez, também respondia em voz alta. Puta-que-o-pariu, por que essa criança não estava assistindo ao Ben 10, Pica-Pau, Pokemon ou qualquer coisa do gênero infantil?

“Calma Jaque, calma… amigo, amigo… respira fundo!” – era quase assim que o Tico falava comigo quando sentiu que eu ia começar a dar ataques de ira. Pensei, mais uma vez: “Jaque, é só uma criança que não tem culpa de ter um pai idiota!”. Mas eu mesma me contra-atacava, e pensava: “Uma geração de idiotas criando outra, e eu não sou obrigada a conviver com eles!”. Tive vontade de largar o filme pela metade e ir embora, mas não achei justo com o meu bolso.

O filme teve 2 horas de duração, e do pouco que eu consegui assistir, gostei muito. Mas, não conseguia deixar de pensar que eu estava numa sessão de tortura disfarçada de cinema, ou participando de em algum teste de paciência, do qual fui irrevogavelmente reprovada.

O grupo de amigos ao meu lado (todos aparentavam ter mais de 30 anos, para o meu espanto), não contentes em apenas tossir e falar, ainda tentavam adivinhar tudo que aconteceria a seguir: “Quer ver como ela agora vai fazer isso? Aposto que ele agora vai dizer aquilo…”

Meeeeeeeeu Deuuuuuuuuuus, socorro! “Calma Jaque, são todos doentes mentais fugitivos de algum sanatório, só pode ser, só pode ser!”

Tirei de letra os chutes que levava na cadeira, de um casal empolgado atrás de mim, mas tive que reclamar, implorando por silêncio mais uma vez, quando a mulher ao meu lado fazia questão de demonstrar suas emoções a cada cena, enquanto tossia: “Óhhh, meu Deus – cof cof cof – tadinho! Que isso, gente? Cof-cof-cof – não acredito!”

Quando o filme terminou e os créditos começaram a aparecer na tela, finalmente consegui o que tanto desejei: silêncio. E alguém falou, admirado: “Nossa, que silêncio!” Eu não me segurei e falei em alto e bom tom: “É, só agora que o filme acaba é que as pessoas resolvem ser educadas!”. Enquanto isso, Tico se afundava na cadeira, tentando se esconder.

Pausa para uma pequena observação: tive que dar minha mão à palmatória para os pré-adolescentes, que foram os que melhor se comportaram nesse episódio. Sei que já tive meus 14 anos, e espero ter filhos um dia, mas confesso que tenho medo do que posso colocar no mundo quando vejo essa geração que acho, particularmente, alienada e extremamente irritante.

Os valores estão invertidos, é isso? Eu estou ficando velha? Fiquei desatualizada e não fui avisada que saiu de moda fazer silêncio dentro do cinema? Todo mundo acha isso normal? Só eu que me aborreço?

Sinceramente, tô confusa. Mas, a cada dia que passa, tenho certeza de uma coisa: está ficando cada vez mais difícil viver em sociedade, e se eu pretendo viver por muito tempo e em condições mentais saudáveis, de preferência, preciso me cuidar, para o meu próprio bem. Eu é que preciso mudar e exercitar o meu espírito esportivo, literalmente.

Voltei para casa pensando em aprender metidação ou fazer yoga, quem sabe? Ou será que seria o caso de tratamento psicológico? Podem me dizer o que acham, eu sou forte, vou aguentar!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Ser grande é pra poucos




Tem um cara lá na minha escola que é a maior “figura”. É um velho engraçado, faz caretas e se chama João José do Nascimento, mas todos o conhecem como Bob, Bob Estrela.

Bob morreu hoje.
Levei Bob ao hospital e mesmo assim ele morreu.
Queria escrever algo bonito sobre Bob.
Eu gostava do Bob. Mais do que eu imaginava, eu gostava dele.
Estou triste.




Era por volta de 1:30 da madrugada do dia 7 para 8 de março de 2010, eu tomava banho de mar. Pra limpar tudo de Sousa Aguiar que estava na minha carne. Procurava me divertir pra tentar impedir que aquela noite fechasse com chave de lixo.


Parecia um bicho o modo como foi maltratado. No ferro gelado o puseram. E gelado ficou o velho que de tão quente era brilho, era estrela.

O neto não vem, o filho nem liga (tiveram uma briga é o que disseram). Sem ninguém.

-Qual é mesmo o nome dele, hein?

-João José do Nascimento.


Só lamento não ter feito nada pra impedir. Deixamos o velho partir.
E no dia seguinte nada de luto, ninguém puto na escola. Um dia normal. Nada escrito no jornal. Ele passou em branco, só mais um velho preto que morreu. Não era parente meu, nem seu. Não era de ninguém, mas me fazia um bem olhar praqueles dentes tortos, praquela cara de gaiato... alegrava meu dia. com suas Bob-Bobeiras.

Que prazer eu tinha de lanchar com ele na esquina! Mas ele morreu e a chinesa do bar continua fazendo a mesma quantidade de salgados. Ele morreu e nada mudou no mundo, nem no Brasil, nem na Rua 20 de Abril (onde ele morava). Em um ano ou dois ninguém mas vai se lembrar dele... e os carros vão passar, e a vida vai seguir como se o velho Bob nunca houvesse existido.

Mas sempre que eu passar na frente daquele hospital vou ficar um pouco mal por lembrar daquele dia escroto e saber que há algum outro velho morto na mesma maca de ferro frio.

domingo, 7 de março de 2010

O Tico



Tenho um amigo mais velho. Muito, muito mais velho. São quatro anos. Quatro anos que devem ter durado seis mil dias cada um. Desde bem pequeno ele sempre cuidou de mim. Quando eu saia correndo pelo shopping ou na praia ele logo olhava na cara despreocupada da minha mãe e falava “Tia, olha bem essa menina”. Pouco tempo depois brigávamos o dia inteiro dentro de casa mas na rua ninguém me encostava o dedo, nem as garotas maiores. Todos sabiam que se meu amigo visse alguém me fazendo algum mal era briga braba na certa. Já com os garotos ele nunca me ajudou não, pelo contrário. Para os garotos de dezesseis anos uma menina de treze e meio é um feto. Eles só tinham olhos para aquelas garotas charmosas e sérias do ginásio. Mas no fundo eu não achava tão ruim, me restavam os de quatorze.

Minha mãe sempre me comprava roupas, mas eu estranhamente gostava e só usava umas já meio gastas, algumas até com certos rasgados, que na minha opinião eram o charme daquela calça ou bermuda jeans. Até hoje não sei se gostava das roupas por serem gastas ou por terem sido herdadas dele.

É bem verdade que não entendi muito quando vi a mãe dele chorando naquele aeroporto. Preocupação acho que não era, o Tico saberia se virar muito bem em outro país, afinal de contas ele já era um homem a muito tempo. Lá ia ele, entrando na sala de embarque, um pouco de barba e muito medo na cara, pela primeira vez eu via medo no rosto daquele homem de 17 anos. Passado poucos messes eu entendi o porque das lagrimas da "tia". Era essa tal saudade, coisa que eu não conhecia até então. Ele não sei, mas essa tal viagem me fez crescer pra caramba. Nada de folgar com garotos mais velhos, viajar sozinha pra casa da vovó, não gritar mais o nome dele quando o computador dava pau, ninguém pra me explicar os filmes com legendas rápidas de mais e ninguém pra me explicar que papai e mamãe não nasceram casados e que poderiam se separar um dia... Os garotos? Continuaram não me dando bola. Até que um dia aquele ano acabou e meu amigo voltou.

Meu amigo havia voltado, e voltou sem medo. Deve ter jogado a tremedeira das pernas em algum lugar do oceano. Mas ele nunca mais me explicou os filmes nem fomos mandados juntos à casa da vovó.

Hoje, alguns anos depois, nos vemos muito pouco, ele foi morar em outro estado por causa do trabalho. Tenho uma afilhada filha dele, de um ano. Ela é responsável pelos poucos sorrisos que lembro de ter visto no rosto daquele homem que tanto amo. Ele está quase sempre muito sério ou com um sorriso amarelo, de nervoso, em situações tensas de trabalho ou encontro com familiares distantes. Quando nos vemos eu falo das minhas vivências e ele de seus negócios. Falamos um pouco de nossos pais e muito de nossos amigos. Algumas coisas nunca mudaram.

Na última visita que ele me fez, estávamos no quarto eu, ele e minha afilhada. Estávamos todos felizes. Ele colocou uma música do Cocoricó e eu comecei a pular e dançar. Ele batia palmas animado e a pequena mexia as pernas gorduchas e sorria. Pulamos até ficar suados. Meu amigo sorria como eu não via desde quando vimos da janela a gorda do 506 do bloco 2 trocando de roupa. A menina ouviu algum barulho na sala e saiu. Quando ele se deu conta que estávamos só nós dois, adultos, cantando “Cocoricó” se recompôs rapidamente, colocou a cabeça pra fora do quarto e gritou “Vem filha, a dinda está dançando pra você”.

O que ele não sabia é que eu estava dançando era pra ele.

Hoje ainda não entendo direito os filmes com legendas rápidas, fico dias sem computador quando ele dá pau e no fundo, no fundo ainda acho que meus pais nunca vão se separar.

Naquele pequeno instante em que olhávamos um nos olhos do outro e cantávamos bem alto “CO-CO-CO-RI-CÓ” eu realmente achei que meu "velho amigo mais velho" havia voltado...

Mas esse tipo de coisa não volta.

sábado, 6 de março de 2010

Eu, enquanto impaciente, esperando o paciente


"- Espere sentada, mocinha!"

A paciência não é uma virtude concedida à mim, embora pareça, em muitas circunstâncias. Detesto cheiro de hospital, ar quente e frio se fundindo, náusea constante, uma sensação ausente de conforto e proteção. Sinto-me mais ansiosa na fila de espera (como qualquer mortal, aliás), do que se estivesse em casa a lamentar essa ausência incessante do meu pai. Preciso deixar de pensar por esse lado, ora ele é meu pai. Mas nunca fui nem tão prestativa, nem ciente de que o meu físico constantemente me traz problemas de impaciência.

Crianças choram, berram alto por suas viroses características de verão, mães consolam (na mesma proporção em que perdem todo o controle), idosos resmungam, mulheres reclamam a demora no atendimento, homens observam impacientes e silenciosos, adolescentes lêem e se entediam. É típico. E, como se já não bastasse, a recepcionista parece ser a humana mais fria da face da Terra, sendo indiferente com nossas dores, blasé. Deve estar acostumada, o cotidiano deve ter-lhe ensinado a desprezar pacientes que não são seus.

Enquanto observo as paredes brancas e o teto azul (clichê), dou-me conta de que este é um teste de resistência e limite. O médico, que já não viera pela manhã, também decidiu estender seu horário de almoço até as duas da tarde. O nome dele é Inocêncio. Fico imaginando (ironicamente, é claro), se o Dr. Inocêncio vem a ser um pervertido, do tipo que ataca as pacientes. Ainda me permito fazer a constatação óbvia de que todo médico que já passou da casa dos sessenta tem um nome arcaico, geralmente inspirado em poetas ou filósofos de séculos retrasados. E toda médica daqui se chama Ana. Sempre é uma moça bonita, muito mais jovem do que qualquer Inocêncio, alta, esguia, elástica como uma criança, branquíssima – do tipo que cora o rosto a cada expressão de constrangimento -, cabelo longo amarrado por uma fivela infantil, olhos caídos que aparentam cansaço, a boca de um risco sutil retorcido e o nariz – arrebitado -, todos em um hospital costumam ser por demais previsíveis. Sem contar com os enfermeiros – sempre impacientes, correndo de um lado para o outro, como se fossem anjos libertários que quisessem salvar qualquer um da morte inevitável.
E caso a minha paciência se esgote, serei encaminhada para a ala psiquiátrica sem mais demora.

É, pai, o que eu não faço por você, hein...

sexta-feira, 5 de março de 2010

A tristeza não é vilã

Ela chegou sem avisar e me encontrou desprevenida e desarmada. Há muito ela vem tentando ser notada por mim, e aproveita qualquer espaço, por menor que seja, para se mostrar, porque não suporta mais ser ignorada. Cansou de ficar escondida por trás do meu sorriso sem graça, do meu olhar sem foco para o nada, da ausência da minha alegria e do meu entusiasmo de ser e existir. Deixo, então, que a tristeza ocupe o espaço que lhe tem sido negado, e que pertence à ela por direito, e espero que me mostre para quê veio.

Acho que quando a dor é aceita, dói pela metade, e se apressa para ir embora, pois uma vez aceita, incomoda cada vez menos, até perder o sentido de existir. Só que enquanto ainda dói, me faz sentir sono, e o sono vem depois do choro cansado e agudo que ela me provoca, sem se importar com mais nada, pedindo para a minha mente e o meu corpo se desligarem um pouco.

Chorar me faz até bem, alivia as angústias e me esvazia de mim mesma. Ando cansada de mim, cansada de existir, de tentar entender a mim, os outros e o mundo. Cansada de buscar respostas para o que é humanamente incompreensível. Então, deixe! Deixe que eu me esvazie do meu próprio cansaço mental e espiritual, deixe que eu me permita estar do jeito que eu preciso estar agora, mesmo sem um motivo “apalpável”. Minha alma não precisa de motivos para se recolher dentro de mim, mas ela só o faz quando eu permito, quando não me fecho na minha mediocridade disfarçada e no meu egoísmo, tão naturais aos humanos, que, por vezes me fazem esquecer que sou muito mais do que carne e osso.

Não acuso mais a tristeza de ser a vilã, parei de tentar camuflá-la em falsas alegrias e sorrisos amarelos. Não estou dizendo que tenho que ser triste, longe disso, o que quero dizer é que todos nós temos um pouco que seja de tristeza, que quando oprimida, fica cada vez mais incômoda, até ficar profunda e inflamada. Quando ela for inevitável, deixo que entre, trato-a com cordialidade, é apenas uma visita breve. Ela não vem para ficar, sei que não quer tomar o espaço da alegria, é singela e humilde, e só vem para preparar o ambiente para uma futura alegria, que se antes não fosse uma dor, passaria despercebida.

“A dor é inevitável, o sofrimento é opcional”. Não sei quem foi o sábio que disse essas palavras, mas ela sintetiza tudo o que quero dizer. Sentir dor é diferente de sofrer, o sofrimento fere e deixa marcas profundas, e pode ser uma escolha. A dor é inevitável, mas é sóbria e tem fundamento, chega e vai embora como uma brisa suave, não deixa saudades, mas me deixa melhor do que quando te encontrou.

Estar triste não é ser triste e a minha tristeza está longe de ser sofrida. Eu não sou habituada a dor, mas, finalmente entendi que a dor me ajuda a crescer como gente, e a cada lágrima que ela provoca, me purifica e limpa os meus olhos para enxergarem tudo aquilo que preciso e que tenho - inconscientemente – me recusado a ver.

“A dor não é motivo de preocupação, faz parte da vida animal.” (Clarice Lispector)

Meio que assim...

A loucura da pergunta que leva o homem a usar entorpecentes, querer se anestesiar do peso do "não saber". Manter-se ignorante não é tão burro quanto parece, é preservar essa fácil felicidade, bem mais acessível.

Aprender a viver com questões é uma arte.
Tudo é efêmero.