segunda-feira, 8 de março de 2010

Ser grande é pra poucos




Tem um cara lá na minha escola que é a maior “figura”. É um velho engraçado, faz caretas e se chama João José do Nascimento, mas todos o conhecem como Bob, Bob Estrela.

Bob morreu hoje.
Levei Bob ao hospital e mesmo assim ele morreu.
Queria escrever algo bonito sobre Bob.
Eu gostava do Bob. Mais do que eu imaginava, eu gostava dele.
Estou triste.




Era por volta de 1:30 da madrugada do dia 7 para 8 de março de 2010, eu tomava banho de mar. Pra limpar tudo de Sousa Aguiar que estava na minha carne. Procurava me divertir pra tentar impedir que aquela noite fechasse com chave de lixo.


Parecia um bicho o modo como foi maltratado. No ferro gelado o puseram. E gelado ficou o velho que de tão quente era brilho, era estrela.

O neto não vem, o filho nem liga (tiveram uma briga é o que disseram). Sem ninguém.

-Qual é mesmo o nome dele, hein?

-João José do Nascimento.


Só lamento não ter feito nada pra impedir. Deixamos o velho partir.
E no dia seguinte nada de luto, ninguém puto na escola. Um dia normal. Nada escrito no jornal. Ele passou em branco, só mais um velho preto que morreu. Não era parente meu, nem seu. Não era de ninguém, mas me fazia um bem olhar praqueles dentes tortos, praquela cara de gaiato... alegrava meu dia. com suas Bob-Bobeiras.

Que prazer eu tinha de lanchar com ele na esquina! Mas ele morreu e a chinesa do bar continua fazendo a mesma quantidade de salgados. Ele morreu e nada mudou no mundo, nem no Brasil, nem na Rua 20 de Abril (onde ele morava). Em um ano ou dois ninguém mas vai se lembrar dele... e os carros vão passar, e a vida vai seguir como se o velho Bob nunca houvesse existido.

Mas sempre que eu passar na frente daquele hospital vou ficar um pouco mal por lembrar daquele dia escroto e saber que há algum outro velho morto na mesma maca de ferro frio.

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