sábado, 6 de março de 2010

Eu, enquanto impaciente, esperando o paciente


"- Espere sentada, mocinha!"

A paciência não é uma virtude concedida à mim, embora pareça, em muitas circunstâncias. Detesto cheiro de hospital, ar quente e frio se fundindo, náusea constante, uma sensação ausente de conforto e proteção. Sinto-me mais ansiosa na fila de espera (como qualquer mortal, aliás), do que se estivesse em casa a lamentar essa ausência incessante do meu pai. Preciso deixar de pensar por esse lado, ora ele é meu pai. Mas nunca fui nem tão prestativa, nem ciente de que o meu físico constantemente me traz problemas de impaciência.

Crianças choram, berram alto por suas viroses características de verão, mães consolam (na mesma proporção em que perdem todo o controle), idosos resmungam, mulheres reclamam a demora no atendimento, homens observam impacientes e silenciosos, adolescentes lêem e se entediam. É típico. E, como se já não bastasse, a recepcionista parece ser a humana mais fria da face da Terra, sendo indiferente com nossas dores, blasé. Deve estar acostumada, o cotidiano deve ter-lhe ensinado a desprezar pacientes que não são seus.

Enquanto observo as paredes brancas e o teto azul (clichê), dou-me conta de que este é um teste de resistência e limite. O médico, que já não viera pela manhã, também decidiu estender seu horário de almoço até as duas da tarde. O nome dele é Inocêncio. Fico imaginando (ironicamente, é claro), se o Dr. Inocêncio vem a ser um pervertido, do tipo que ataca as pacientes. Ainda me permito fazer a constatação óbvia de que todo médico que já passou da casa dos sessenta tem um nome arcaico, geralmente inspirado em poetas ou filósofos de séculos retrasados. E toda médica daqui se chama Ana. Sempre é uma moça bonita, muito mais jovem do que qualquer Inocêncio, alta, esguia, elástica como uma criança, branquíssima – do tipo que cora o rosto a cada expressão de constrangimento -, cabelo longo amarrado por uma fivela infantil, olhos caídos que aparentam cansaço, a boca de um risco sutil retorcido e o nariz – arrebitado -, todos em um hospital costumam ser por demais previsíveis. Sem contar com os enfermeiros – sempre impacientes, correndo de um lado para o outro, como se fossem anjos libertários que quisessem salvar qualquer um da morte inevitável.
E caso a minha paciência se esgote, serei encaminhada para a ala psiquiátrica sem mais demora.

É, pai, o que eu não faço por você, hein...

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